quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Voltando no tempo: Relato de Parto

Um parto não começa quando o bebê quer nascer. O parto começa com a gravidez.

Assim que descobri a gravidez (contarei isso em outro post) me senti a mulher mais feliz do mundo e ao mesmo tempo mais desesperada: o bebê "entrou" aí e vai ter que sair! E agora? Na época minha gineco era Dra. Delcina, uma senhora muito experiente, com quem eu dividia as minhas angustias de mãe de primeira viagem. Corri até ela e como sempre, muito gentil, me tranquilizou, disse que o parto era algo natural, fisiológico e que tudo iria correr bem. Me orientou a ler o livro "Parto sem dor" (que depois dei com carinho a minha professora de pilates) e "Nascido no Mar". Saí de lá bem mais tranquila e comprei os dois livros. "Parto sem dor" fala sobre uma serie de exercícios que podem ser feitos pela gestante com o intuito de fortalecer a musculatura responsável pela expulsão do bebê (a maior parte dos exercícios fazem arte do pilates). "Nascido no Mar" relata com muita singeleza o parto de Bapu que ocorreu no... mar!

Quando Yuri e eu pensávamos em parto sempre nos ocorreu o "normal". Mas eu tinha a ideia de: VAI ser normal. Yuri tinha a ideia de: SE tiver tudo bem, vai ser normal. Tivemos incontáveis discussões por causa disso, pois eu dizia para ele que se houvesse alguma intercorrência seria uma emergência ou coisa ruim e que eu não gostaria de mentalizar emergências, muito menos coisas ruins, mas que se tivesse de ser de outra forma, tudo bem... eu não entraria em DPP nem nada disso.

Bom, voltando a Dra. Delcina, ela nos disse que não fazia mais parto. Ela já era uma senhora e o esposo também idoso... enfim não seria viável sair de casa no meio da noite para me socorrer. Pedi a ela uma lista com médicos que fizessem o meu esperado PN. Marquei dois GO's. Um tinha uma data bem próxima para me atender e a outra, dra. Kátia Azevedo, tinha uma data distaaaante, mas mesmo assim deixei agendado.

O primeiro GO é um médico muito bom, atencioso, atendia o meu convênio, disse que fazia sim o PN, mas que cobrava a parte o parto, sendo PN ou cesárea. Fiquei sendo atendida por ele até +ou - o sexto mês de gestação, quando chegou a data da consulta com dra. Katia.

Vou voltar um pouco no tempo para falar da CPN da Mansão do Caminho. Logo no início da gravidez uma colega do meu esposo havia falado para ele sobre a casa de parto da Mansão do Caminho. Busquei na internet e achei uma boa ideia, mas não passou disso. Por acaso Yuri conversou com outra pessoa que também falou sobre a CPN. Aí eu pensei: coisa do destino! Liguei pra lá. Me informaram que duas vezes por mês ocorre uma roda em que uma enfermeira obstétrica explica sobre a fisiologia do parto, os critérios de admissão e o momento de ir para a "maternidade". Agendei e nós fomos! Já tinham tantas mulheres barrigudas e eu lá... com minha barriguinha minúscula... (risos) Me sentia até anormal. Participar do curso foi esclarecedor demais. Enquanto a maioria dos cursos de gestante fala sobre os procedimentos do hospital, como cuidar do RN, o que levar na mala e etc. O curso da CPN fala sobre o parto, como é o trabalho de parto, quais são as fases do parto, qual o momento de realmente ir ao hospital, o que fazer para melhorar a dor, mitos x verdades do parto, plano de parto e por aí vai... esse curso foi fundamental para que eu batesse o martelo de que um parto normal e se possível natural e mais ainda humanizado, era sim o que eu gostaria! Para fechar esse adendo, eu já tinha lido o livro Pediatria Radical que fala essencialmente sobre o bebê e faz parte da saúde do bebê o tão famoso... PARTO!

Voltando aos GO's! Meses se passaram e chegou a data da consulta com dra. Katia. Fui bem sincera com ela de que eu gostaria de um PN. Ela me disse que não cobraria a mais por isso e que atendia o convênio! Pimba! Gostei dela. Voltei ao primeiro médico e ele compreendeu minha decisão, me deu um encaminhamento muito respeitoso para dra. Katia e pronto. Nesse processo, fiz o plano de parto apresentei a dra. Katia e ela disse que respeitaria tudinho, mas que a parte do bebê deveria ser solicitada junto ao hospital de minha escolha. Vou falar um pouco sobre isso...

Assistindo os partos na internet e também ao filme "O renascimento do Parto" eu pensava muito na dor dos bebês que nasciam. Separação da mamãe no momento do nascimento, procedimentos desnecessários, ambiente frio... Eu tinha certeza que não gostaria que minha filha passasse por nada daquilo. Quem pariu em hospital me perdoe, não é por mal, isso é algo meu mesmo. Desde que meu pai faleceu eu tenho a imagem de que hospital é local de doença e não de "nascença" (trabalhei isso com a psicóloga inclusive) e eu só de pensar que minha filha nasceria, seria levada para longe de mim e que eu ficaria ali sozinha deitada... nossa! Me dava uma dor no estômago sem tamanho. Por esses motivos acima eu fui até a chefe da pediatria do hospital que escolhemos e apresentei meu plano de parto. ela me disse que nem tudo ali era realista, mas foi amável e me explicou os motivos. Saí de lá inclusive com uma pulga atrás da orelha e com medo de algo dar errado no momento do nascimento. Acho que os médicos estão tão habituados a trabalhar com problemas que fica difícil imaginar que as coisas possam ser positivas. Por fim encontrei na internet um obstetra positivo: Leboyer. Ler sobre ele e assistir vídeos dos partos dele foi muito legal para perceber que a vida pode ser mais sorridente, até para os médicos.

Gostaria de falar que o Pilates foi muito importante para mim no parto. A respiração ensinada nas aulas foi de fundamental importância para o controle da dor. Se chama respiração diafragmal e não é difícil, mas ajuda muito. No curso do casal grávido também nos ensinaram. Nada de respirar cachorrinho, como nos filmes! (risos)

Plano de parto pronto. GO legal, conversa com o hospital, malas prontas... OK.
Com 36 semanas as coisas estavam tensas. Eu só pensava que o dia estava próximo e queria que a minha bebê esperasse o máximo possível dentro de mim pois queria muito concluir alguns objetivos profissionais e deixar o pessoal todo preparado para ficar em casa com ela todo o período de licença  maternidade. Com 37 semanas eu já tinha concluído os objetivos profissionais e sair de casa já era cansativo com aquela barriga gigante, mas eu ainda trabalhava nos três locais.

 Um belo dia, estávamos na cozinha, conversando alegremente e de repente eu fiz xixi. Simples assim! Do nada. Assim mesmo. Yuri entrou em pânico, ligou para a obstetra e disse que achava que a bolsa tinha rompido, mas que eu achava que era xixi. Eu pensava: não pode ser, não pode ser, ela só tem 37 semanas... não pode... eu ainda não fiz tudo que eu tenho de fazer... não pode... Mas aí a médica pediu para que eu fizesse um teste simples. Colocasse um absorvente e observasse. Se saísse líquido com cheiro de água sanitária ou sêmen era o líquido amniótico. Se não, era xixi. E assim fizemos. Nos dias que se seguiram usei absorvente todos os dias, com medo de fazer xixi na rua. Nessa mesma semana eu fui até a CPN e fiz a consulta de perfil. Essa consulta foi para saber se eu poderia parir lá ou não... SIM!!! Fui aceita! Eu tinha o perfil!!! 

Com 38 semanas e 2 dias, mais precisamente dia 03 de novembro de 2015, eu entreguei meu atestado de início de LM. Para mim já estava cansativo, a conta. Nesta terça-feira eu decidi organizar tudo da minha vida pessoal: banco, pilates, psicóloga, enfim... todas as pontas soltas seriam amarradas. Saí de casa pela manhã junto com Yuri tendo contrações de treinamento. A psicóloga não pôde ir à sessão, a  professora do pilates me dispensou. ao final do dia eu havia contado 54 contrações de treinamento, poucas com um pouco de dor, a maioria sem dor alguma. Acredite você que, após um da cansativo na rua, quando cheguei em casa só pensava em limpar a casa. Pedi ao meu vizinho que me ajudasse e levasse de carro Sayuri (minha cadela) para a casa de minha mãe, e assim fizemos. (Detalhe: a DPP do meu bebê era dia 15 de novembro.) De volta para casa quando Yuri chegou eu pedi a ele que me ajudasse a limpar a casa. Coitado! Cansado de trabalhar o dia todo teve que me ajudar a limpar a casa TODA! Fomos dormir tranquilos.

Com 38 semanas e 3 dias (quinta-feira) passei o dia tranquila, praticando o "deboísmo", "hakuna matata" e etc. A noite Yuri chegou e trouxe material para fazer hambúrgueres enormes. HAHAHAHA. Comemos como se não houvesse amanhã. Fomos deitar, como de costume, lá pelas 21:30... conversamos até as 22:00 e dormimos. As 23:30... SURPRESA!!!

Acordei 23:30 com cólicas fortes e líquido saindo de mim. Chamei Yuri e disse: "Amor, fique calmo.Quero que você levante e pegue a minha tolha. Acho que minha bolsa estourou." Ele levantou, pegou a minha toalha e coloquei entre as pernas para ver a cor e o cheiro do líquido: comprovado! Cheiro de água sanitária, era líquido amniótico. Yuri, tadinho, começou a entrar em desespero, ficar feliz e emocionado tudo junto, ou seja, não sabia o que fazer.

Tomei banho com as cólicas (contrações) fracas e sem ritmo. Eu já tinha baixado um contador de contrações e eram uma a cada 10 minutos. Cortei as unhas, tirei o esmalte, organizei as coisas de casa que precisava... Enquanto isso, Yuri deixou nosso vizinho, que nos levaria para a "maternidade", de sobreaviso. Yuri me perguntou se deveria ligar para dra. Kátia e para onde eu gostaria de ir. Pedi que ele ligasse para a casa de parto para saber se havia vaga... Tinha.









Tomei então uma decisão difícil: ligar para minha GO, que por sinal eu gostava demais, e fazer o parto normal hospitalar ou ir para a CPN e ter um parto normal, natural, humanizado? Era uma dúvida bastante cruel, pois eu gostava de dra. Kátia, mas não gostava de clima hospitalar. Por outro lado eu queria a CPN, mas tinha medo de alguma intercorrência. Resolvi deixar Deus no controle e saímos mais ou menos 1:30 de casa, com contrações a cada 5 minutos. Chegamos na casa de parto fui atendida pela enfermeira obstétrica e eu já estava com 3 contrações a cada 10 minutos, entretanto estava só com 1 cm de dilatação, colo grosso e bebe alto. Inicialmente ela me mandaria para casa, para que eu voltasse pela manhã, mas tendo em vista que eu morava em Lauro de Freitas e não tinha carro, eu não estava disposta a voltar. Pensava: volto pra casa? vou logo pra outro hospital? Fico lá fora passeando pra aumentar a dilatação?

Por fim, por a casa estar vazia e terem vários quartos disponíveis, eles me acolheram em um quarto onde pude tomar banho, fazer exercícios na bola de pilates, andar na varanda, enfim... Prometeram que voltariam as 4:30 para reavaliar a dilatação. Passei então a madrugada batendo papo com Yuri entre as contrações e ele, angustiado, fazendo massagem em minhas costas para o alívio da minha dor. Vomitei de dor duas vezes... Quero falar um pouco sobre a dor... A dor do parto, para mim, foi uma dor de cólica misturada com dor de coluna. Quando eu ainda não tinha parido imaginava a dor do parto como a dor de ser aberta em dois pela cabeça do bebê. Não é assim. A dor é a nossa aliada para que o bebê possa sair. Não é a dor da morte, não é a pior dor do mundo. É uma dor de vida, ela anuncia a chegada do nosso bebê.

Lá na CPN eles não dão analgesia, não fazem episiotomia de rotina, não te dão ocitocina. Você pode desistir de parir lá e se quiser ir para um hospital para tomar a analgesia, tudo bem, entretanto só no período que for seguro para vc e para o bebê. Confesso que pensei nisso algumas vezes, mas graças a Deus não fiz. As 3:30 da manhã as contrações já estavam com dores insuportáveis e eu já estava na partolândia... (louquinha, pensando em ir embora, desistir do PNH, tratando o marido mal).

4:00 eu pedi a ele que fosse chamar alguém pra medir minha dilatação. Veio uma enfermeira anjo de luz. Luciana. Ela me olhou e foi medir minha dilatação. Pra minha surpresa e dela tbm o bebê já estava pertinho, a um dedo de nascer. Eu estava numa poltrona, ainda com roupas de casa, e comecei a fazer força, ali mesmo. Ela me orientou a mudar de roupa e de lugar... Ir pras barras de pilates ou escolher um local pra ficar de pé ou agachada. Fui pras barras, pra banqueta, pra a ponta de cama e não me senti confortável. Subi na cama e fiquei de joelhos, segurando na cabeceira. Ela falava comigo para que eu me concentrasse na dor e respirasse direito. As palavras dela eram como bálsamo... aliviavam a minha dor. Quando Ana coroou ela e Yuri falaram para eu colocar a mão e fazer carinho nos cabelos dela... no primeiro momento eu não queria, mas logo em seguida toquei os cabelinhos da minha florzinha e foi muito bom saber que ela já já estaria em meus braços... Minha filha nasceu assim... cercada do nosso amor. Meu marido foi a primeira pessoa que pegou nela e eu a segunda. Tinha uma circular de cordão que a enfermeira e meu marido desfizeram. A dor acabou tão logo que ela nasceu. Peguei ela no colo e meu marido veio pro nosso lado. Aguardamos uns 20 minutos o cordão parar de pulsar dizendo o quanto ela é amada e querida. O pai cortou o cordão. Minha filha recebeu a injeção de vitamina k e colirio em meus braços, mamando. Não chorou. Seu primeiro choro foi quando saiu dos meus braços, tomando a vacina de hep B e pesando. Nasceu linda, às 5:10, com 3,345kg e 47 cm. Desde então não nos separamos. O parto de verdade vem agora: na volta ao trabalho.

2 comentários:

  1. Anezitah! Sem palavras para descrever o que senti lendo suas postagens... Eu que te acompanho lá no babycenter sei o quanto o espaço "limitado" e aqui você realmente mostrou o seu potencial de emocionar e ensinar "expondo" seu dia a dia com Ana. Parabéns mulher, adorei o seu blog!

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    1. Owww fofa!!! Obrigada. Vc tbm tem blog? Se tiver eu vou visitar... Bjos

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